"O ser humano faz de tudo para esquecer-se de si, para se afastar de si, para se distrair, para se entorpecer ou se anestesiar e não sentir o seu ser mais profundo.
Em vez de beber da divina fonte, ele prefere embriagar-se para esquecer quem é. Em vez de comer para se alimentar e renovar as células do corpo, com a mastigação consciente, prefere encher-se de comida até não poder mais, para preencher aquela incômoda sensação de vazio que não o abandona. Cada vez que sente o buraco, põe alguma coisa na boca para tentar aliviar a dor existencial, os conflitos, esquecer-se dos problemas. Na realidade, quem tem fome é sua alma, não o corpo.
Em vez de uma caminhada saudável na natureza, movimentando o corpo harmoniosamente (porque vida é movimento) e respirando a vida, ele faz aeróbica ou corre para descarregar as tensões, até desmaiar de cansaço, para não pensar ou refletir, isso sem mencionar o desgaste físico provocado por atividades desse tipo. Depois, vai se distrair num 'shopping center', consumir desnecessariamente na tentativa de melhorar a imagem. Ele distrai a mente com objetos externos, com cenários diferentes, luzes, ruídos, agrupamentos, tudo para compensar seus desejos frustrados.
Não bastando, ele entra num cinema para "não ter de pensar", e não para acrescentar experiências de vida ou conhecimento. Para encerrar a noite, ele liga mecanicamente a televisão (em geral, com vibração bem negativa) como barulho de fundo para poder "relaxar e adormecer"... e cair na inconsciência total... fugir do amanhã, da vida e, é claro, de si mesmo.
Recordar-se de si significa estar presente e consciente de si mesmo, da própria essência divina a cada momento, a cada ato ou circunstância do cotidiano. Por exemplo, lavando a louça, deixando a água correr em suas mãos, como se estivesse "lavando a própria alma"; ou cozinhando o sagrado alimento que regenerará suas células; ou regando um jardim com a consciência de preservar a natureza; ou limpando a casa e harmonizando o lar, pensando em eliminar as emoções negativas; ou ouvindo atentamente uma música, ou sentando-se em silêncio - mas sempre uma coisa de cada vez, com 'plena atenção, concentrando-se' no que está envolvido, sem se distrair com outros assuntos que nada tenham a ver com o momento presente. Esse é o próprio ato de criação: não mudar de vida, mas viver uma vida com qualidade. É só na consciêcia do aqui e agora que a mente se aquieta, os pensamentos cessam e dá-se o seu encontro com Deus na totalidade do ser.
"Eu e o Pai somos um" (Jo 10,30). O vazio existencial passou a ser preenchido pela Luz, a Bem-Aventurança, a Pura Felicidade de um Ser auto-realizado na plenitude do seu Silêncio Interior."
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Retirado do livro: "Respirando a Vida - Iniciação para um trabalho de integração corpo-espírito", de Sylvie Lagache, ed. Paulinas, pg. 131/133.
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